quinta-feira, 19 de julho de 2012

22. Saborear


A precisar urgentemente de uma pausa. 

Está complicado conseguir dançar. Não sai cá de dentro. As últimas semanas foram más, más a vários níveis e estou a precisar de inspiração para Domingo. Os poucos ensaios também não ajudam. Esta gente aqui é muito cool, está sempre tudo bem e acham que não têm de repetir até à exaustão e que fique perfeito. 

Sinto falta do rigor, fora os colegas que para eles tanto faz. Tanto faz? Os pés ou esticam-se ou fazem flex ou esticam-se com os dedos em meia ponta. Sempre em tensão. Na dança não há pés à merda, bacalhaus. As pernas idem. Não são tábuas mas, caramba, quando é para esticar é para esticar. Digo eu, que fui educada à antiga, eles acham que não é cool. 

Também seria cool querer aprender, admitir erros e perceber que não são a última Coca Cola do deserto. Ver espectáculos também ajuda. Não saber e rejeitar o conhecimento dá-me dores de estômago. Falta de técnica ou de consciência corporal não se camufla com o querer acentuar esses defeitos. Querer fazer melhor, aprender a fazer melhor, não? Seria simpático.

Cá ando, triste por acontecimentos à volta da minha esfera pessoal e desiludida com estes momentos.

Qualquer dia, tenho saudade das "divas". Com o "Miguel, eu rodo melhor para a direita e a perna esquerda sobe mais alto!". Pelo menos, ainda sabiam o que era técnica, spacing, consciência corporal, o que resulta em palco, cores e formas que resultam (Se não sabiam, pesquisavam, procuravam saber. Não faziam orelhas moucas quando lhe explicam, por exemplo, que um bege e um salmão claro têm a mesma leitura em palco, pelo que não faz sentido escolher ambas as cores.) e apreciavam sensibilidade artística. Sensibilidade artística, o que, para mim, distingue a dança da ginástica. Sentimento. Ter saudade das "dívas". Era só o que mais me faltava. A tecer-lhes elogios, onde cheguei.

Para já, quero cama, mimos e doces. Tenho o corpo completamente dorido e coberto de nódoas negras, arranhões, feridas e outras mazelas. Quero o meu espírito de volta e voltar a sentir-me a dançar. Depois, praia. Vendo-me barato por um areal a perder de vista, temperatura da água simpática e umas quantas ondas para a prancha.

Meditar e reencontrar o meu "cool", já agora. Domingo logo se vê. No Domingo seguinte, a história é outra. Ninguém me nega um musical (Brodway) e um Jazz bem "Fame". Desta vez, saberá muito bem estar por nossa conta, com o cool à outra maneira. É outra casta. Mais antiga.

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